sábado, 8 de agosto de 2009

Eu sinto sua falta. Sinto mesmo. Gostava dos nossos papos em dias normais, das noites insones e do sentimento que crescia quando estávamos juntos. Embora não consiga ainda denominar este sentimento, sei que era um sentimento bom.

E também sinto falta dele aqui dentro. Sinto falta ainda de ter tranquilidade nas noites de verão. Costumava olhar para o lado e ver teu sorriso, agora, vejo a parede branca. Ando vazia e triste, acho que morri.

Você falou de sonhos e eu acreditei. Falou de alegrias, sabores, frutas doces de primavera, tocou no nome dos cientistas frustrados e rimos juntos das histórias deles. Fomos solidários à Einstein, Galileu, Newton e ficamos frustrados um tempo depois. Queríamos o mundo, e o mundo não nos queria. Eu quis ser o tempo todo, você quis ser parcial. Eu não tive medo. Distância, sentimentos, que o mundo acabasse, estava sendo eu e queria que você fosse você.

Pensei até em ser Tarsila, você quis que eu fosse Pagú. Tu bem sabes que eu nunca serei Pagú. Sabemos coisas demais um do outro. Inclusive aquilo que poucos sabem de nós, coisas que escondemos dos nossos pais, dos amigos mais íntimos, do espelho.

Sei a causa do teu silêncio que costuma perturbar os que andam a tua volta, sei dos teus desejos proibidos, das falhas com teus amigos, dos teus pecados, dos teus ex-amores, das tuas manias, das loucuras, da vaidade, da teimosia e do orgulho, da mania de competir como se estivesse jogando xadrez consigo mesmo, e do hábito de morrer fazendo roleta-russa com o espelho.

O meu erro foi não falar destas coisas por achar que eram intimidades tuas. Mesmo por que eu também tenho segredos de Pandora e não queria acidez entre nós. Porém, já estávamos tão íntimos quanto Heathcliff e Catherine. E não me reprimo por isso.

Encontrei a tua sapiência quando me desfiz de um passado que cumprimento respeitosamente. Aqueles dias que sucederam as mudanças foram difíceis, eu estava frágil e embora não tivesse consciência, você esteve ao meu lado. Continuo sendo frágil em alguns momentos, naqueles em que canso e as mãos no rosto enxugam dores diárias mas você não está aqui, nem o seu sorriso. Tu dizias apreciar minha beleza, mas não sabias da minha luta contra a voz da perfeição que tenta me conduzir nos meus hábitos rotineiros e da minha labuta em tapar os olhos a fim de não sê-la. Eu sempre fui eu e você nem sempre foi você. Eu sabia disso, e fiz-me pacata.

Esperei a tua honestidade, a tua serenidade, a sinceridade. Não as encontrei de fato e agora José? O Drummond não me ajuda e o Borges sumiu. Percorri as prateleiras de poesias e encontrei apenas o Oswald de Andrade. Não, ele não. Ele tinha uma Pagú. Em quem acreditar? E você, acredita em você? Quem de você?

O Vinícius de Moraes poderia até me entender porém logo no Soneto Oxford iria me dizer "Procure-o doçura". Eu não ando romantica ultimamente a este ponto. Já fui, ao meu modo, claro. Hoje não mais. Cantaste versos para outra, porém você não me devia fidelidade amorosa. Não tínhamos algo a prezar.

Você estava até certo em procurar a sua pintora. Eu é que não sou Pagú, e jamais serei... Na verdade, bem verdade mesmo, eu também não quero ser Tarsila. Quero apenas ter alguém que me diga flores de campo e traga até minhas mãos uma prosa que fale de calor humano. Talvez queira ser a Zélia Gathai. Onde errou? Você sabe, eu não. Trago-lhe então, esta rosa como símbolo do meu desejo de saber quem você é de verdade verdadeira (como dizia outrora), para saber se o que eu continuo a amar é amor de sonho real ou de sonho de ilusão. E quando (ou se) souber envie-me a rosa de volta para poupar o tempo, pois dele já dependemos de muitas coisas...



Amado
Vanessa da Mata


Como pode ser gostar de alguém
E esse tal alguém não ser seu
Fico desejando nós gastando o mar
Pôr do Sol, postal, mais ninguém

Peço tanto a Deus
Para esquecer
Mas só de pedir me lembro
Minha linda flor
Meu jasmim será
Meus melhores beijos serão seus

Sinto que você é ligado a mim
Sempre que estou indo, volto atrás
Estou entregue a ponto de estar sempre só
Esperando um sim ou nunca mais

É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer

Sinto absoluto o dom de existir, não há solidão, nem pena
Nessa doação, milagres do amor
Sinto uma extensão divina

É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Quero dançar com você
Dançar com você
Quero dançar com você
Dançar com você

Nenhum comentário: