sábado, 28 de novembro de 2009

Sobre a Morte



Há uma crônica de Rubem Alves intitulada O Médico. Trata-se de uma reflexão do educador acerca da morte. Ele lembra de uma vez em que foi ao médico e na sala de espera deparou-se com um quadro.
No quadro, a imagem de uma criança doente, os pais ao lado da cama, com as mãos sobre a filha e o médico, este sentado em uma cadeira perto da cama da infante. Suas mãos, apoiam o rosto desconsolado, que caracterizava o estado de sua alma desolada. Acima da criança, haviam duas fontes de luz; uma desconhecida e outra, a de uma lamparina. O educador acredita que é a própria luz da criança, afinal, quando alguém que já tenha uma certa quantidade de anos vividos falece, não sentimos tanto quanto uma criança que mal exaltou a vida, deixa este mundo. Parece ser injustiça divina, mas não gosto de pensar na morte como sinônimo da baliza da vida.
A crença de "substantivos abstratos" como amor, morte, perdão... está ligada à crença de um Poder Superior. Uma professora, certa vez, contou o motivo de sua ângustia em dar aulas naquele mês. Foi em março de 1999 que sua filha de 5 anos e sua mãe faleceram. Ela contou que dois amigos, marido e mulher, tinham falecido em um acidente de carro e, ela e o seu esposo tinham decidido fazer um passeio em uma praia com o filho do casal para se distraírem. O mar estava revolto, mesmo assim as crianças entraram na água. Duas ondas fortes arrastaram ela e a filha para o fundo do mar. Todos conseguiram se salvar. Ela ficou um bom tempo na água incosnciente, porém foi salva, e a menina só foi encontrada depois de três dias. Depois de relatar minunciosamente a sensação de perder uma filha querida, estar a beira da morte, ela disse:
"A minha filha está dormindo em Jesus. E eu estou aqui esperando apenas a minha hora chegar para dormir em Jesus também, e quando Ele voltar, ele vai subir aos céus levando-me em uma de suas mãos e minha filhinha em outra". Ela disse isso com os olhos cerrados de emoção. De fato, os católicos não acreditam em vida pós morte. Os presbiterianos também não, os adventistas acreditam que os mortos "dormem em Cristo" e muitos esperam a volta do Senhor. Os batistas por sua vez, acreditam na reencarnação de Cristo, e por fim, os espíritas acreditam que Jesus está aqui, entre nós, reles mortais. Não discuto religiões, mas creio ser sadio apreender um pouco de cada uma delas. Contudo, abtenho-me de questionar a visão que a minha ex-professora tem da morte e de Deus, afinal, ela vive pelo ideal de encontrar a filha dela nos braços do Senhor.
Este assunto não tem fim. Gostaria, contudo, de finalizar essa reflexão com uma citação de Rubem Alves em "O Betinho morreu".

"Minha filha tinha dois anos. Eram seis horas da manhã e eu estava dormindo. Acordei com ela de pé ao meu lado, de camisola, me perguntando: Papai, papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?" Fiquei mudo ante a pergunta. Nunca havia ouvido a questão ser posta de forma mais bonita. Ela sabia que eu estaria em algum lugar. Com a mente, eu passaria a morar no lugar da saudade. Saudade, do quê? Desse mundo maravilhoso onde vivemos. Aí ela completou: "Não chora não que eu vou abraçar você."

Cenas da vida (p. 79)

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